sábado, 24 de dezembro de 2016

A Menina Submersa

"Não foram poucas às vezes em que eu a visitei e ela me disse que queria morrer, e eu costumava dizer que preferia que ela vivesse e melhorasse e que voltasse para casa, mas que não ficaria aborrecida se ela realmente tivesse de fazer isso - se ela tivesse de morrer, se chegasse o dia ou à noite em que ela simplesmente não pudesse mais suportar. Ela disse que sentia muito, mas que ficava feliz pelo fato de eu entender e que sentia gratidão por isso."

Com uma narração intrigante, não linear e uma prosa magnífica, India Morgan Phelps se torna uma narradora não confiável. E o que coloca ainda em questão todas suas memórias é um simples fato de ela possuir uma esquizofrenia desorganizada. A pessoa que sofre desse transtorno tem dificuldade em distinguir as experiências reais das imaginárias, de pensar de forma lógica, de ter respostas emocionais consideradas normais e uma série de outros sintomas. Talvez seja esse se o motivo que torne esse um livro tão peculiar, inteligente e cativante são duas palavras que o define. O livro é um daqueles clássicos em que ou ama ou abandona, mas não se assuste caso o livro pareça confuso ou qualquer coisa do tipo vá com calma na leitura e tudo vai dar mais do que certo.

O livro é narrado pela India M. Phelps ou apenas Imp, como ela logo nos relata no começo de sua história. Em certa parte de sua vida Imp decide escrever todas as suas memórias sejam elas reais ou não “vou escrever uma história de fantasmas agora (...) uma história de fantasmas com uma sereia e um lobo.” Os fantasmas da Imp são diferentes dos que na maioria das vezes nós imaginamos, pois não são fantasmas do além ou criaturas de filmes, mas fantasmas psicológicos que assombram seu passado e presente. Tanto a mãe, Rosemary Anne, e avó, Caroline, tinham esquizofrenia e ambas se suicidaram, algo no qual faz com que Imp se dirija em direção contrária delas e com ajuda de sua maquina de escrever e sua namorada Abalyn. Imp deixa um aviso sobre sua narração onde não devemos confiar totalmente no que ela escreve, pois os acontecimentos vão desde momentos reais em que ela vivenciou a momentos fantasiosos de sua cabeça. Ao completar seu decimo aniversário Imp é levada pela mãe em um museu, lá ela primeira vez em sua vida vê o quadro A Menina Submersa pintado em 1898, pelo artista Phillip George Saltonstall. Quadro e artista foram criados pela autora.

O quadro em grandes partes é de tons escuros e verde cinza no centro uma jovem nua está submersa até os tornozelos em um lago, e olhando para escuridão das árvores como se algo estivesse vindo a seu encontro. O quadro e a garota desenhada nele passa a ser parte da vida de Imp, tanto que a própria garota da pintura acaba sendo encontrada por Imp em determinada parte de sua narração. Imp também relata sobre O Manual Completo do Suicídio. Ao decorrer do livro Imp deixa de tomar os remédios e isso traz consequências para a sua vida, mas se isso muda para melhor ou pior, só lendo para saber.

O livro escrito pela autora americana Caitlín R. Kiernan, A Menina Submersa é vencedor do prêmio BRAM STOKER. Publicado no Brasil em 2014 pela editora Darkside, o livro tem duas versões de formados uma em hardcover e outra em brochura. 

Boa leitura!


Marcos Vinicius Migliorini.      

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