terça-feira, 27 de dezembro de 2016

A Improvável Jornada de Harold Fry

"Ele viu que as pessoas decidiriam o que desejassem decidir, e que algumas delas acabariam machucando a si mesmas e a quem as amasse, e algumas pessoas passariam despercebidas, enquanto outras trariam alegria."

Alguns livros você lê e os guarda na estante com aquela sensação de ter lindo algo muito bom e ter acertado em cheio na leitura. A Improvável Jornada de Harold Fry é o tipo de livro que você começa a ler e simplesmente não sabe para onde vai, pois como um livro onde um senhor de idade, aposentado e saindo de casa somente para colocar uma carta na caixinha do correio pode simplesmente ser o melhor livro do ano ou quem sabe da vida. A Improvável Jornada de Harold Fry é o tipo de livro que salva vidas. A escritora Rachel Joyce nos entrega em sua primeira obra um livro sensível, comovente e que mostra ao leitor que tudo é possível e não importa o tempo que levar ou como for apenas siga em frente.

Em uma manhã Harold ao tomar seu café da manhã e pensar em sua rotina ao longo do dia recebe de Maureen sua esposa algo um tanto incomum para ele uma carta. Não era somente uma carta, mas uma carta de Queenie Hennessy uma amiga na qual Harold não via há muitos anos. Na carta Queenie relata a seu amigo que ela está com uma doença e que seu estado já é tão critico que não lhe resta muito tempo de vida. Após algum tempo ao se recompor Harold escreve uma carta para sua amiga e somente com sua roupa diária, carteira no bolso e a carta em mãos Harold desce a rua de sua casa para colocar a carta na caixa do correio. Algo, no entanto sai do seu plano, pois ao chegar à caixa do correio Harold decide colocar ela na outra caixa e caminhar mais um pouco, isso acaba se seguindo novamente e novamente até que Harold percebe-se que simplesmente esta em uma caminhada não para colocar a carta no correio, mas para entrega-la nas mãos de Queenie, pois Harold acreditava que fazendo essa jornada de um paço de cada vez ele teria por meio disso curar sua amiga. Harold então faz sua odisseia partindo do sul da Inglaterra para o Norte da Inglaterra onde sua amiga se encontra.
Em sua jornada Harold encontra varias pessoas, pessoas que como ele tem seus sofrimentos, defeitos e medos. E ao contar o que ele esta fazendo algumas pessoas acredita que sua caminhada simplesmente é algo incrível e maravilhoso e lhe apoiam, outros zombam dele e dizem que é inútil, mas mesmo nos momentos mais difíceis Harold continua e continua.  Então ele nota que ao fazer sua caminhada ele leva consigo não só parte sua, mas de cada um que ele conheceu e se antes ele tinha algum preconceito eles simplesmente desapareceram.

Harold tem um convivo muito complicado com sua esposa e seu filho que já não mora mais com os pais, Maureen conversa sempre com o filho pelo telefone e fala sobre a loucura que Harold fez ao sair de casa para caminhar até onde a velha amiga vive. Ao longo de todo tempo afastada de Harold, Maureen passa então a refletir sobre o tempo em que eles vivem juntos e se estaria ele se afastando dela e por isso faz essa inesperada caminhada. Passa também a refletir como o filho, mas principalmente ela trata o marido, mesmo sendo conservadora e com receios do que os outros possam pensar dela e de Harold ela passa a conversar com outras pessoas e se abrir sobre tudo o que vem ocorrendo. E em alguns momentos até imagina que o que Harold esta fazendo é o certo e que devia dar-lhe total apoio e quem sabe ir até ele e caminhar juntos.

Ao longo da história Harold vive grandes aventuras e o livro tem uma narrativa tão simples e até mesmo filosófica que é meio que impossível não se apegar. O livro com 243 páginas faz com que leitor ao terminar de ler desejar que tivesse mais 500 páginas no livro. De um modo muito, mas muito resumido esse é o livro, e apesar de ser um livro que aparenta ser muito simples e é mesmo, tem vários acontecimentos que por menores e rotineiros o torna grandioso por seus pensamentos. Quando Harold percebe o mundo a sua volta, flores, céu, pássaros e tantas outras coisas. Talvez quem saiba o que falta em nossa vida não seja uma carta que nos faça sair um pouco e notar o mundo de verdade?

O fim do livro é perfeito, onde tudo faz sentido e faz com que ao terminar de ler acontece um breve silêncio de reflexão. E pode ter certeza que se no começo do livro você começar não gostando da Maureen, pois saiba que vai terminar o livro gostando. Pois a jornada de Harold Fry muda a vida dele, das pessoas em sua volta e provavelmente do leitor.   
O livro foi lançado pela Suma de letras em 2013 e tem uma edição igual à versão britânica.

Boa leitura!


Marcos Vinicius Migliorini.

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